Recuperação judicial e falência: o que acontece com o patrimônio dos sócios?

Na recuperação judicial ou falência, o patrimônio dos sócios costuma ser protegido, salvo em casos de fraude, má gestão ou confusão patrimonial.

Quando uma empresa entra em recuperação judicial ou tem a falência decretada, uma das maiores preocupações dos sócios é: meu patrimônio pessoal corre risco? A resposta depende de diversos fatores, especialmente do tipo societário da empresa, da conduta dos gestores e da existência de irregularidades.

A proteção da responsabilidade limitada
Na maioria dos casos, empresas atuam sob o regime de responsabilidade limitada, como é o caso de sociedades limitadas (LTDA) e sociedades anônimas (S.A). Nesse modelo, o patrimônio pessoal dos sócios não se confunde com o patrimônio da empresa. Assim, em tese, os bens particulares dos sócios não respondem pelas dívidas da empresa.

No entanto, existem exceções importantes, e é aí que mora o risco.

Recuperação judicial: o que acontece com os sócios?
Durante o processo de recuperação judicial, a empresa mantém suas atividades e busca reestruturar suas dívidas com a aprovação de um plano pelos credores. Nesse cenário:

  • Os sócios não perdem o controle imediato da empresa;
  • O patrimônio pessoal dos sócios, via de regra, não é afetado;
  • Eles continuam podendo administrar o negócio, desde que não haja impedimentos legais.

Porém, se for constatada fraude, desvio de finalidade, confusão patrimonial ou má gestão, o juiz pode aplicar a desconsideração da personalidade jurídica, atingindo os bens pessoais dos sócios para satisfazer dívidas da empresa.

Falência: e quando a empresa não se recupera?
Quando a recuperação judicial não é aprovada ou fracassa, ou quando a empresa entra diretamente com pedido de falência, o cenário muda:

  • O controle da empresa é retirado dos sócios;
  • Um administrador judicial assume a condução do processo;
  • Os bens da empresa são arrecadados e vendidos para pagar os credores.

Mas e os sócios?
Se não houver irregularidades, os bens pessoais continuam protegidos;

Se houver abuso de direito, fraude, má administração ou confusão patrimonial, pode haver desconsideração da personalidade jurídica, e os sócios podem ser responsabilizados com seu patrimônio pessoal.

Desconsideração da personalidade jurídica: quando acontece?
A Lei nº 13.874/2019 (Lei da Liberdade Econômica) reforçou critérios para que a desconsideração da personalidade jurídica só ocorra em casos extremos, como:

  • Fraude contra credores;
  • Desvio de finalidade da empresa;
  • Confusão entre os bens da empresa e dos sócios.

Ou seja, a simples existência de dívidas não é motivo suficiente para responsabilizar os sócios pessoalmente.

Como se proteger?
A melhor forma de evitar problemas envolvendo o patrimônio pessoal é:

  • Manter a separação clara entre o patrimônio pessoal e empresarial;
  • Ter uma contabilidade regular e transparente;
  • Evitar movimentações financeiras irregulares;
  • Seguir as normas legais e boas práticas de governança;
  • Buscar assessoria jurídica especializada ao menor sinal de crise financeira.

Tanto na recuperação judicial quanto na falência, o patrimônio dos sócios geralmente permanece protegido, desde que a empresa tenha sido administrada de forma correta e transparente. A desconsideração da personalidade jurídica é uma medida excepcional, mas pode ser aplicada se forem identificadas irregularidades graves.

Se sua empresa está enfrentando dificuldades financeiras, é essencial agir preventivamente e buscar orientação jurídica desde o início. Isso pode fazer toda a diferença para preservar o negócio, e o patrimônio pessoal.